23-09-2025
Economia

FMI alerta para queda histórica das reservas internacionais angolanas até 2026
O Fundo Monetário Internacional (FMI) projecta uma descida acentuada das reservas internacionais de Angola, que podem cair de 15,7 mil milhões USD em 2024 para apenas 12,6 mil milhões USD em 2026 — o valor mais baixo desde que há registos. A projecção, que aponta para uma perda de 3,1 mil milhões USD, está ligada à degradação das condições macroeconómicas, ao enfraquecimento das receitas fiscais e à queda das exportações de petróleo.
O relatório, divulgado após a visita de uma missão técnica do FMI a Luanda, alerta ainda para a crescente pressão sobre o Governo para cumprir com o serviço da dívida. Com a produção petrolífera em declínio desde 2016 e a exportação diária limitada a cerca de 1 milhão de barris, as receitas já não são suficientes para cobrir metade do Orçamento Geral do Estado (OGE), grande parte destinado ao pagamento da dívida externa.
“Com menos receitas em divisas e uma dívida que continua a pesar, é inevitável que as reservas caiam. É matemática pura”, defende o economista Álvaro Mendonça.
Para fechar as contas, o Executivo tem recorrido a endividamento de curto prazo e a empréstimos com taxas de juro elevadas. O exemplo mais recente foi o financiamento de 1.000 milhões USD do JP Morgan, com taxa próxima de 10%, que deverá ser pago até Dezembro de 2025. Caso não seja amortizado, o banco poderá executar garantias em eurobonds no valor de 1.900 milhões USD, aumentando ainda mais o stock da dívida.
A vulnerabilidade fiscal e a dependência de financiamentos caros preocupam o FMI, que alerta para riscos adicionais para o sistema bancário e para a própria economia. Uma eventual descida de rating do país teria impacto directo nas contas dos bancos, reduzindo a sua capacidade de conceder crédito e travando o consumo e o investimento privado, o que pode agravar a desaceleração do PIB.
Para além da dívida externa, o Governo tem recorrido a recursos internos, incluindo empréstimos directos do Banco Nacional de Angola (BNA). O OGE de 2025 autorizou um financiamento inédito de até 2,0 mil milhões USD, pago com títulos de dívida a cinco anos, o que levanta questões sobre a independência do banco central e o respeito pela sua própria lei.
Com a projecção de queda do preço do petróleo para cerca de 60 USD por barril até ao final do ano e sem perspectiva de novas emissões de eurobonds, a pressão sobre as reservas internacionais deverá manter-se, prolongando a vulnerabilidade externa do país num ano pré-eleitoral.
Soque Soque | Redactor
Foto: DR
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