Apenas três bancos, nomeadamente BAI, BFA e Standard Bank, concentram mais de 70% dos resultados. Setor continua a privilegiar investimento em dívida pública em detrimento do crédito à economia.
Os lucros da banca comercial em Angola cresceram 63% no primeiro semestre de 2024, totalizando 539,3 mil milhões de kwanzas, face aos 331,1 mil milhões registados no mesmo período do ano passado. Os dados foram apurados com base nos balanços de 20 bancos comerciais, excluindo o BPC, que ainda não publicou os seus resultados semestrais.
A expansão dos lucros foi fortemente impulsionada pelo aumento dos investimentos em títulos da dívida pública, que continuam a ser o principal activo da banca. Estes títulos já representam 53% dos activos totais do setor e cresceram 21%, atingindo os 8,5 biliões de kwanzas. O Governo emitiu 5,3 biliões Kz em dívida no mercado primário, um aumento de 18% face a 2023, e 3,5 biliões Kz no secundário, mais 46%.
Apesar do crescimento expressivo nos resultados, o crédito às famílias e empresas continua com um desempenho marginal. Segundo o economista Alberto Vunge, os bancos mantêm uma estratégia de conservação de capital e preferem aplicar recursos em activos públicos, menos arriscados e com retorno mais elevado, ao invés de correrem riscos com crédito privado.
“Actualmente, os títulos públicos oferecem melhor retorno e exigem menos capital. O crédito a empresas e famílias envolve mais risco e maior exigência de capital, o que afasta a banca da sua função de financiadora da economia real”, explicou o especialista.
BAI lidera lucros e reforça posição como maior banco do país
O Banco Angolano de Investimentos (BAI) lidera a lista com lucros de 187,4 mil milhões Kz, mais 27% do que no ano anterior, consolidando-se como o maior banco em activos, crédito e resultados. O BFA surge em segundo lugar, com 121,5 mil milhões Kz (+54%), seguido do Standard Bank Angola (SBA), com 69,4 mil milhões Kz (+52%). Estes três bancos concentram juntos 378,3 mil milhões Kz, ou mais de 70% do total dos lucros do setor.
O ranking dos cinco bancos mais lucrativos inclui ainda o Banco de Negócios Internacional (BNI), com 38,6 mil milhões Kz (+108%), e o Banco Millennium Atlântico, que saiu de prejuízos e alcançou lucros de 27,2 mil milhões Kz. O BIC também reverteu perdas, passando de um prejuízo de 6,5 mil milhões para um lucro de 17,8 mil milhões Kz.
Completam o top-10: o BCA (12,3 mil milhões Kz), o Standard Chartered Bank Angola (11,8 mil milhões Kz), o VTB África (9,9 mil milhões Kz) e o BDA, com lucros de 1,2 mil milhões Kz, embora este último não integre formalmente o setor da banca comercial.
Concentração do lucro e aposta no Estado expõem fragilidade do crédito privado
Com cinco bancos a representarem mais de 88% dos lucros da banca, o setor mostra elevada concentração e dependência da dívida pública como fonte de rendimento. Esta tendência reforça o afastamento do financiamento à economia real e revela limitações estruturais na actividade de concessão de crédito.
Soque Soque | Redactor
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