08-07-2025
Cooperação & Negócios

Banco Mundial cancela financiamento de 350 milhões. Projecto de interligação eléctrica com Namíbia travado por atrasos antigos
Angola perdeu, por ora, um financiamento de 350 milhões de dólares do Banco Mundial, destinado ao Projecto de Expansão da Rede de Transmissão Sul, que previa ligar a rede eléctrica nacional à Namíbia e permitir a integração plena do país no Sistema de Energia da África Austral (SAPP).
A decisão está directamente ligada ao ritmo lento de execução de um outro projecto financiado pela mesma instituição, aprovado em 2021, que previa 200 mil novas ligações domésticas de energia, beneficiando um milhão de pessoas nas províncias de Luanda, Huambo, Huíla e Benguela. O fracasso deste programa acabou por contaminar os planos futuros.
Esse primeiro projecto, avaliado em 397 milhões USD e também co-financiado pela Agência Francesa para o Desenvolvimento, inclui ainda 95 mil postes de iluminação pública e apoio operacional às empresas públicas ENDE, RNT e PRODEL. Porém, os constantes atrasos levaram o Banco Mundial a classificá-lo como "moderadamente insatisfatório", especialmente em áreas como aquisição de bens, gestão financeira e execução global.
“Não faria sentido desbloquear um novo financiamento para o mesmo sector enquanto este continua a arrastar-se”, explicou ao Expansão uma fonte próxima ao dossier.
Com a suspensão do financiamento, ficam também adiadas intervenções importantes, como a substituição da central a gasóleo de Ondjiva por fontes renováveis e o apoio técnico à integração de Angola no mercado regional de energia. A RNT, entidade gestora da transmissão, não tem ainda experiência de operação num sistema interligado como o da SAPP.
A decisão do Banco Mundial reacende críticas à estratégia energética do Executivo, frequentemente acusada de priorizar investimentos na produção, como barragens e centrais fotovoltaicas, e negligenciar a distribuição, que é justamente o ponto mais frágil do sistema.
Apesar dos milhares de milhões aplicados na geração de energia, menos de metade da população tem acesso efectivo à rede eléctrica pública. De acordo com dados recentes da ENDE, Angola tem 2,6 milhões de ligações activas, com meta de atingir 3,6 milhões até 2026. Contudo, o ritmo é lento.
“A taxa de electrificação nacional ronda os 46%. O desafio maior já não é produzir, mas sim levar essa energia às famílias e empresas”, alertou Isequiel Manuel, director de Planeamento Estratégico da ENDE, num fórum recente em Luanda.
Outro entrave ao avanço do acesso à energia é o baixo preço de venda ao público, que desincentiva o investimento. Há um compromisso, firmado com o FMI e o próprio Banco Mundial, para ajustar as tarifas e rentabilizar as infra-estruturas, mas a pressão social e a aproximação das eleições gerais de 2027 mantêm a questão em banho-maria.
No fim, o sonho de integrar Angola num sistema energético regional que favorece o comércio de electricidade e aumenta a segurança energética da região ficou adiado — não por falta de dinheiro, mas por falta de ritmo.
Francisco Soque | Redactor
Foto: DR
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